Estudo do Meio, sua escola já fez?

Você já ouviu falar em Turismo Pedagógico? Mais conhecido popularmente pelas escolas como Estudo do Meio?

O mestre Paulo Freire (1985, p. 61), ressalta que:

“...Nenhuma ação educativa pode rescindir de uma reflexão sobre o homem e de uma análise sobre suas condições culturais. Não há educação fora das sociedades humanas e não há homens isolados. O homem é um ser de raízes sócio-temporais..."

E assim, a professora Regina Feltran, destaca que:

"...o Estudo de Meio , ao mesmo tempo que veicula uma determinada concepção sobre a relação Homem-Sociedade, organiza-se com a finalidade de explicitar esta relação. Estudar o meio, a realidade, a vida, significa tentar encontrar elementos para melhor compreender a interação do homem com ele mesmo e com o mundo .”

E por fim, a professora da Universidade UESB Ennia Débora Passos, afirma que:

"...o Estudo do Meio é uma técnica de ensino que se realiza por meio da
pesquisa. A compreensão mais elaborada da problemática da prática social se faz com pesquisa de vários tipos, utilizando instrumentos metodológicos diversos, registrando e interpretando a realidade e propondo alternativas para as situações analisadas..."

Pois bem, o Estudo do Meio colabora com o aprendizado, quebrando antigos paradigmas do Ensino "decoreba", que tínhamos alguns anos atrás. Livros e mais livros, teorias e mais teorias, provas e mais provas, é tudo fruto de um aprendizado aplicado há 10 anos atrás, onde o professor era rígido e exigente, e os alunos pouco interessados em tudo que aprendiam.

Mas será que foi apenas há 10 anos atrás?

Infelizmente não, muitas escolas Municipais e Estaduais ainda optam por este tipo de aprendizado, que desperta o desinteresse dos alunos, com algumas excessões em algumas cidades, claro.

Porém, eu que concluí a escola em 2006, vivi da 1ª séria do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, na mesma escola Estadual, que optava por fazer com que os alunos decorassem para realizar provas, informações muitas vezes maçantes uma atrás das outras, ou até mesmo, aulas vagas, para alegria dos alunos (lembro que adorava quando isso acontecia).

Viagens na escola, apenas para o Hopi Hari ou Playcenter, nenhum Estudo do Meio, afinal, isto implicaria em fugir da "cartilha" do professor, e complicaria mais tarde.

Já se passaram 4 anos desde que concluí os estudos, e agora atuando na área do Turismo, com este segmento de Turismo Pedagógico, vulgo Estudo do Meio (ou vice versa), percebo que algumas escolas estão mudando esse conceito, que Paulo Freire ressalta como "Ensino bancário". O que é muito bom!

Porque Ensino bancário?

Paulo Freire descreveu em seu livro que:

"...o modelo tradicional de prática pedagógica de 'educação bancária', entendia que ela visava à mera transmissão passiva de conteúdos do professor, assumido como aquele que supostamente tudo sabe, para o aluno, que era assumido como aquele que nada sabe. Era como se o professor fosse preenchendo com seu saber a cabeça vazia de seus alunos; depositava conteúdos, como alguém deposita dinheiro num banco. O professor seria um mero narrador, nessa concepção de educação. Nessa narração a realidade apareceria como algo imutável, estático, compartimentado e bem comportado, como se fosse uma 'coisa morta'..."

Eu achei esta denominação de Ensino, muito engraçada, pois nada mais é que a realidade. Pelo menos comigo foi isso que aconteceu, muitas coisas que "aprendi" na escola não estão comigo, todo aquele conhecimento que eu deveria ter adquirido durante todos aqueles anos dentro da sala de aula, foram absorvidos durante o meu trabalho.

Como?

Simples, como atuo na área de Turismo Pedagógico, estou em contato com toda aquela parte histórica e geográfica, que estive alguns anos atrás, mas que de pouco lembro. E estar em contato na prática com essas teorias me fez enxergar e absorver o máximo de informações que eu fui capaz. E assim, pude (e ainda posso) transmitir tais informações às pessoas que vêm em busca dessas vivências.

Há três anos, me apaixonei por essa área e fiquei por aqui, contribuindo para aprendizagem de crianças e jovens, que vão até fazendas do interior de São Paulo para se fazer o tão famoso Estudo do Meio.

No entanto, a maioria de escolas que passam a realizar este Estudo do Meio são particulares, pouquíssimas Estaduais e Municipais, voltando lá em cima, da minha crítica sobre a questão da "Escola bancária". Porém, eu acredito que ainda isto irá mudar aos poucos. E a própria escola que estudei, por exemplo, poderá desfrutar aos alunos, um ensino melhor.

Um dos lugares que trabalho é a Fazenda do Chocolate, na cidade de Itu, interior de São Paulo, que aborda questões do Descobrimento do Brasil, do Bandeirismo, do Rio Tietê, da Mão de Obra Escrava, da Imigração Italiana, das diferentes Produções Econômicas, do Meio Ambiente, da Questão Urbano X Rural, entre outros assuntos.

Complementando tudo aquilo que é visto em sala de aula, porém de uma forma lúdica, que guias e monitores especializados, transmitem através de todo material visual que a fazenda disponibiliza e de ferramentas que estes profissionais possuem, por trabalhar muitos anos nesta área.

No vídeo de Alex Pinheiro, coordenador da Fazenda do Chocolate, ele comenta:

"...a importância para mim, pelo o que eu faço, é mostrar pra criança aquilo que ela não conhece, e mostrar da maneira mais lúdica, mais louca, para que ela possa ter mais lembranças..."

E o fato da criança lembrar é o fator principal para ela absorver e aprender. Exercitar seus 5 sentidos, junto com a ludicidade, fará com que ela adquira para si, tudo aquilo que a professora lutou para transmitir em sala de aula.

Afinal, segundo Humberto Campos:

"...Na infância, o que se ouve ou o que se vê, não sobe para o cérebro. Desce para o coração e fica escondido.”

Dessa forma, afirmo que o Estudo do Meio é mais do que um modo de complemento do ensino, é uma ferramenta indispensável nos dias de hoje, onde a tecnologia compete com o professor. A sala de aula não deixa de ser um lugar de aprendizagem, mas é "burrice" dizer que ficar só nela é o ideal. Fora das 4 paredes tem um mundo que a cada momento muda e se transforma, enquanto o professor fala que houve desmatamento em tal lugar, já estão ocorrendo outros três. Toda criança e jovem precisa de um estímulo para não ir à escola com aquele desânimo. Deixar de ficar só nos livros e passar a ter vivências não é mais algo do futuro, é o ensino dos dias atuais.

Se sua escola ainda não está nessa, ATUALIZE-SE!

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Foto retirada deste site.

Vanessa A Souza